O prefeito Marcinho traz para Paraíba do Sul
neste carnaval a maior festa de rua do mundo. O Cordão da Bola Preta ganhou
este título ao arrastar mais de 2,3 milhões de pessoas nas ruas do Rio de
Janeiro em 2011 e neste ano este título poderá ser oficializado pelo Guiness
Book, o Livro dos Recordes. Com quase 100 anos de história, o mais antigo e
tradicional bloco carnavalesco da capital estará enfeitando a animando as ruas
de Paraíba do Sul com as cores preto e branco na segunda-feira de carnaval, dia
11 de fevereiro, na festa intitulada “Quintal da Lapa”.
“Só
se bebe água”
Em 1917 um grupo de amigos, em sua maioria
remadores do Club de Regatas Botafogo, associados do Club dos Democráticos,
inconformados com a suspensão de um de seus membros, passou a organizar suas
fuzarcas regadas a muito chopp, mulheres bonitas e anedotas nas mesas dos bares
cariocas. Do grupo, faziam parte ilustres futuros fundadores como Álvaro Gomes
de Oliveira, o “Caveirinha”, Francisco Brício Filho, o “Chico Brício”, Eugenio
Ferreira, João Torres e os três irmãos Oliveira Roxo, Joel, Jair e Arquimedes
Guimarães. Em um desses encontros decidiram fundar o cordão carnavalesco
intitulado “Só se bebe água”, e como símbolo do grupo exibido em um estandarte
se via: um barril de chope de onde saiam várias mangueiras, levando a bebida
diretamente aos consumidores: eles.
Apesar de muitas dificuldades no início, de até
mesmo a proibição imposta pelas autoridades aos cordões carnavalescos, sem
dinheiro, sem licença, sem sede; em 1926 decidiram enfrentar a tudo e fizeram
seu primeiro estatuto, que tinha como ponto comum entre seus fundadores é que
seria um cordão e em seu 1º artigo afirma que qualquer modificação neste título
“implicará na dissolução do Bola Preta”.
A
origem do nome “Bola Preta”
Durante um dos desfiles do ainda “Só se bebe
água” na Glória, se via uma cena amorosa entre um pierrot (provavelmente uma
fantasia de “pierrete”) de fantasia toda branca com bolas pretas e um remador
do Botafogo, o Caveirinha. Após um beijo apaixonante, Álvaro de Oliveira perdeu
de vista a pierrot, e junto com Jamanta, jornalista que narra essa história,
saiu no meio do bloco em busca da amada. Na procura ouvia-se um gritando para o
outro “tem bola preta?”. A pierrot que encantou Caveirinha nunca foi
encontrada, mas em 31 de dezembro de 1918 a amada foi eternizada na homenagem que
batizou o mais tradicional bloco de carnaval do Rio de Janeiro.
Histórias
Sem condições financeiras, durante anos a turma
do Bola alugava espaços por determinados períodos de tempo para realizar seus
bailes. Durante o ano se encontravam mesmo era nos bares cariocas. Vários
boêmios famosos também frequentavam os encontros, como: Pixinguinha, Donga, Ary
Barroso entre outros. Ary certa vez induzido assinou cem mil réis no livro de
ouro, que arrecadava fundos para o cordão. Revoltado, o compositor iniciou um
discurso inflamado, entendendo que foi explorado. Logo, o nomeado xerife da
festa, Caveirinha, tratou de, com uma conversa ao pé do ouvido, retirar Ary
Barroso do recinto. Ary até que tentou um “deixa disso”, mas não teve jeito,
foi mesmo convidado a se retirar e teve seu dinheiro devolvido. A regra rezava
que só era admitida alegria nas festas, e não excessos.
Como
ser um Bola Preta
E a turma do Bola Preta é exigente na hora de
admitir um novo membro. Tinha de ser merecedor do título e se enquadrar em
quatro quesitos, determinados após muitas reuniões regadas a chopp: ser bom de
copo; ser alegre; ser maior de 21 anos; e apresentar provas que trabalha. O
primeiro quesito era testado numa chopada com os irmãos. O segundo, pela
observação do comportamento nas atividades carnavalescas. O último quesito era
ponto de honra, não se admitiam malandros.
Mesmo comprovados os requisitos, o candidato se
tornava aspirante. Para se tornar membro essas qualidades eram observadas
também na prática, durante os bailes e encontros da turma. A cerimônia de
batismo de um novo membro foi descrita em uma reportagem do Diário do Norte
(1930):
“Precedida
de um vasto regabofe, é realizada a tradicional cerimônia de baptismo de mais
um irmão. O sacerdote improvisa um latinório e é acolytado pelo próprio Xerife.
Pena que o precioso texto bíblico não possa ser aqui reproduzido... O atual
sacerdote da Bola, homem de largas responsabilidades domésticas, não sendo por
isso mesmo membro efetivo do Cordão, comparece (a família não sabe!), à
solenidade. E então, O Hymno Nacional dos Bolas é recitado (e não cantado!):
Saude,
Gambôa!
(coro)
Morro da Favella.
À
nossa!
(côro)
Para que Deus nos livre de uma bôa cossa...
Casca,
cascas, casca...
(côro)
Dura!
Sapo,
sapo, sapo...
(côro)
Pemba!
Bella,
Bella, Bella...
(côro)
Vista!
À
saúde da...
(côro)
Mulher!
Foge!
Se eu te agarro,
Se
eu te pego, se eu te pilho...
(coro)
Vou-te à “Bola Preta”
E
te faço um filho!
Hip!
Hip! Hip!
(côro)
Hurrah!
“Bola...
(côro)
Preta”
“Bola...
(côro)
Preta”
Despejo
e renascimento
Com o passar dos anos e muitas mudanças, o
carnaval carioca passou por transformações, que infelizmente afetaram de forma
negativa os blocos tradicionais da cidade. Com o Cordão da Bola Preta não foi
diferente, e com a perda de prestígio dos bailes e clubes carnavalescos, perda
de público, quadro de associados sem renovação e falta de administrações
profissionais, endividado, em 2008 o Cordão da Bola Preta é despejado de sua
sede histórica. Mesmo assim, não deixou de desfilar no carnaval carioca.
No ano seguinte o Governo do Estado, reconhecendo
a importância do mais tradicional bloco carnavalesco da capital, assinou um
convênio cedendo um prédio para abrigar o Bola. O local escolhido foi o mais
adequado: a Lapa, berço da boêmia carioca.
Três anos depois de perder sua sede, o Cordão da
Bola Preta arrastou mais de 2,3 milhões de pessoas em seu desfile, que acontece
tradicionalmente nos sábados de carnaval, das 9h até as 14h na Avenida Rio
Branco, Centro do Rio de Janeiro, superando o Galo da Madruga de Recife, e se
tornando a maior festa de rua do mundo.
Musas
do Cordão da Bola Preta
Além de arrastar milhões de foliões, o Cordão da
Bola Preta é destino certo de famosos durante o carnaval carioca. Atualmente o
bloco tem como Porta-estandarte a atriz Leandra Leal; coroada Rainha do bloco,
a atriz Desirée Oliveira; e como Madrinha, a cantora Maria Rita.
Toda essa história e muitas outras estarão em
Paraíba do Sul no “Quintal da Lapa”, na segunda-feira de carnaval, dia 11 de
fevereiro, animando os foliões sul-paraibanos. E para treinar, segue a letra da
marchinha mais famosa que abre os desfiles do Cordão da Bola Preta, composta
por Vicente Paiva:
Quem
não chora não mama! Segura, meu bem, a chupeta. Lugar quente é na cama Ou então
no Bola Preta.
Vem
pro Bola, meu bem, Com alegria infernal! Todos são de coração! Todos são de
coração (Foliões do carnaval). (Sensacional!).
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